quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Qual o impacto do turismo na cidade de Maputo?

Conhecer a influência do turismo na cidade de Maputo foi o objectivo do Estudo da Cadeia de Valor, realizado recentemente na cidade. O trabalho resultou de uma iniciativa da SNV e de uma ampla coordenação e colaboração do Ministério do Turismo (Mitur), Governo da Cidade, Município, AHSM,CEDARTE, ICC, e do Programa de Indústrias Criativas das Nações Unidas.

Os resultados do Estudo da Cadeia de Valor trouxeram à tona um conjunto de informações de natureza económica que permitem reconhecer o impacto do turismo na actividade económica da cidade, neste caso da capital do país, principalmente quanto à sua contribuição na geração de empregos, de rendimento e de identificação de sectores que se beneficiam directa e indirectamente da atividade turística.

Quando analisamos a atividade turística em qualquer parte do mundo, é comum termos algumas lacunas de informação, por diversas razões, e principalmente a maior traduz-se na dificuldade de pesquisar a cadeia de valor do turismo.

Neste artigo, tenho a satisfação de poder partilhar algumas informações concretas, que vêm completar a visão que o MITUR oferece com os seus dados e pesquisas estatísticas e que juntos espero que lhe permitam uma perspectiva mais apurada da situação que impera hoje no destino turístico da cidade de Maputo.

Dito isto, vejamos que Maputo é o principal destino turístico de Moçambique, isto em termos de número de visitantes. São 333.000 turistas que estão a visitar nossa cidade anualmente, e em termos de ingressos derivados do turismo conta-se o valor de 95 milhões de dólares, que entrararam na economia da cidade, como resultado directo dos gastos dos turistas.

É graças aos gastos realizados pelos turistas que, na cidade de Maputo, são gerados 4.000 postos de trabalho, principalmente nos segmentos de Bares & Restaurantes, Hospedagem, Artesanato e Comércio. Evidentemente, que ao mesmo tempo as receitas do Estado são igualmente reforçadas pela economia do turismo, sob a forma de impostos.

Se nos determos a analisar a estrutura do mercado de turistas que visita Maputo, verificamos um dado excepcional e de suma importância. Tudo indica que 44% do total de turistas que visita a cidade é nacional. Nesse sentido, o crescimento económico médio de 6%, experimentado pelo país nos últimos 5 anos, está a demonstrar a sua materialização efectiva no bolso dos moçambicanos, que se encontram a viajar.
O Estudo verifica ainda que os moçambicanos estão a visitar Maputo principalmente motivados por eventos & negócios (87%) e pela visita a familiares & amigos (13%). Esta informação é entusiasmante, na medida em que já sabemos que é muito difícil desenvolver um sector turístico competitivo e sustentável sem um mercado doméstico forte.

Vejamos o exemplo do Brasil, aqui se regista em 2008, 58 milhões de viagens domésticas, e 5 milhões de viagens internacionais. O que seria da indústria brasileira do turismo se dependesse apenas do mercado estrangeiro? Já imaginou?...

Assim mesmo, outras valiosas informações vêm à tona, podendo destacar que o segmento de eventos & negócios é o mais importante no momento, e que o segmento de lazer e cultura ainda é incipiente, o que nos obriga a realizar algumas reflexões a propósito.

Poderia o segmento de lazer e cultura ampliar a geração de trabalho e rendimentos na cidade? O que impede que o turismo cultural se desenvolva? Sabemos operar o turismo receptivo cultural? Podemos aprender a fazer isto melhor?

Ainda no âmbito da análise do mercado turístico, foi possível identificar que 80% dos turistas permanece na cidade mais de 3 dias e que 75% já visitaram a cidade mais de duas vezes.

Estas informações são muito importantes para o Governo e empresários, e poderiam abrir espaço para uma nova concepção das estratégias de desenvolvimento e marketing turístico, e particularmente sobre o papel fundamental das agências de turismo receptivo, segmento este ainda pouco explorado pelo sector privado nacional.

Embora todas estas sejam noticias eminentemente positivas, dentro do conjunto de temas que a cidade precisa tratar para se alavancar economicamente, gostaria apenas de ressaltar uma única questão. A cidade de Maputo precisa assumir a responsabilidade de servir como referência para o resto do país em matéria de gestão publica e desenvolvimento do turismo.

Resulta difícil para Moçambique estimular o seu desenvolvimento turístico na velocidade e qualidade desejada, se não se tem uma verdadeira referencia nacional, um destino modelo, um lugar que conta com exemplos suficientes para ilustrar aonde e como se pretende desenvolver a actividade turística no resto do país.

Moçambique precisa se espelhar numa referência, um destino catalisador do desenvolvimento turístico, um verdadeiro laboratório de experiências aonde a tecnologia moçambicana de turismo possa ser concebida pelos corpos técnicos permanentes, implementada e disseminada para o resto do país. Uma espécie de incubadora de programas e projetos de apoio ao desenvolvimento local. Assim como o papel ocupado pelo Estado da Bahia no Brasil, Barcelona em Espanha e Dubai nos Emirados Arabes, etc.

Esta, evidentemente não precisa e nem deve ser a única estratégia, entretanto faço aqui esta reflexão no sentido de alertar que o desenvolvimento do turismo não é tarefa fácil, os recursos são por natureza escassos diante das necessidades de intervenção, por tudo isto, é preciso apostar na sinergia de esforços ( conhecimentos + investimentos) para poder executar projetos que demonstrem pela vía da experiência própria, um caminho competitivo e sustentável para o turismo em Moçambique.


(*)  Federico Vignati

Assessor Sênior de Turismo da SNV
Autor do Livro: Gestão de Destinos Turísticos