terça-feira, 29 de setembro de 2009

Gestão de destinos turísticos: Superando desafios, inovando e construindo um modelo moçambicano

Nas últimas décadas, a economia do turismo tem agregado à sua estrutura técnica um conjunto de conhecimentos científicos que vem contribuir para que iniciativas de intervenção e apoio ao sector alcancem resultados, cada vez mais, concretos e efectivos em matéria de dinamização económica, geração de oportunidades de emprego e apoio ao desenvolvimento sustentável, sobretudo no âmbito local.

Neste sentido, gostaríamos de nos juntar àqueles colegas, especialistas no assunto, que vêm debatendo o tema do desenvolvimento turístico em Moçambique e, em particular, provocando uma reflexão sobre um conceito que se encontra cada vez mais presente no discurso e na prática da política económica do turismo, trata-se da Gestão de Destinos Turísticos.

Para isto, parece necessário começarmos com uma breve análise da situação actual para posteriormente podermos ver como este conceito técnico, próprio da área científica do turismo, nos pode auxiliar em matéria de intervenções públicas e privadas cada vez mais eficazes de um ponto de vista económico e pro-pobre (ou que contribua para o alívio à pobreza).

Na região do Sudeste Africano (SEA) , o turismo apresenta-se hoje como uma importante actividade económica que contribui de forma decisiva com a geração de milhares de empregos, oportunidades de rendimento e com o aumento efectivo dos ingressos públicos (10%), bem acima da média mundial de (5.5%).

De acordo com dados da SNV (Organização Holandesa de Desenvolvimento), referentes a seis países da região do SEA, em 2008 o turismo contribuiu com a geração de 2.2 biliões de dólares em recursos para os Estados da região. Por outro lado, cabe ao turismo a responsabilidade da geração de 1.274.000 empregos ou 8% do total da mão-de-obra empregada nestes países.

No contexto nacional, graças ao eminente trabalho do Ministério do Turismo e do sector privado, a actividade turística em Moçambique vem apresentando uma importante vitalidade, demonstrando a capacidade de contribuir de forma efectiva para o PIB (6%), gerando milhares de oportunidades de empregos directos, bem como contribuindo com a distribuição da renda e valorização do capital cultural e ambiental do país.

Após análise dos dados do MITUR, pode-se verificar que estamos diante de uma actividade económica que apresenta um crescimento médio à razão dos 10% ao ano, que emprega aproximadamente 35.000 pessoas e que rende ao Estado, em impostos, receitas da ordem de 127 milhões de dólares. Neste sentido, o turismo vem conquistando graças à melhoria das condições do ambiente institucional e do mercado, uma posição cada vez mais relevante na agenda económica e na política nacional.

Analisando mais a fundo estes dados, e à luz da experiência empírica da SNV na área de Turismo Pro-pobre (TPP), é possível perceber que a actividade turística de Moçambique, embora apresente importantes sinais de crescimento, precisa investir na diversificação da sua base produtiva, no desenvolvimento de novos produtos e na qualificação integral dos seus destinos turísticos, como forma de melhorar a competitividade da oferta turística.

Tabela 1: Gastos por Dia em países SEA



    2007 2008
2009


1 .Rwanda 250 260
270


2 .Kenya 200 220
270


3 .Tanzania 155 171
188


4 .Zambia 105 112
118


5 .Mozambique 70 75
80


6 .Ethiopia 50 55
70


























Fonte: SNV, 2009

Tabela 2. Permanência média do Turista em países SEA


  2007 2008 2009
1 .Kenya 7.5 8 8.5
2 .Mozambique 2.2 2.5 2.5
3 .Rwanda 4.5 4.5 5
4 .Tanzania 13 13 14
5 .Zambia 6.3 6.4 6.6


Fonte: SNV, 2009

Como se pode observar nas Tabelas 1 e 2, embora Moçambique tenha uma participação de 17% do mercado entre os países da SEA, alguns indicadores de desempenho da actividade ainda são tímidos se comparados com outros países da região e, sobretudo, se comparados com o importante potencial que o turismo representa para o país.

As tabelas anteriores revelam ainda outro dado relevante, o gasto realizado pelo turista que visita Moçambique, assim como seu período de permanência encontra-se no intervalo inferior do conjunto de países a SEA, com apenas 2,5 dias de permanência e 75 dólares de gastos por dia, bem abaixo da realidade de Tanzânia, Kenya e Zâmbia por exemplo.


A necessidade da delimitação territorial

Vale a pena destacar que Moçambique conquistou o seu lugar no panorama turístico africano e hoje apresenta condições excepcionais e fundamentais para o seu desenvolvimento turístico, podendo-se destacar a sua estabilidade social e política, o progresso significativo nos seus indicadores de desenvolvimento económico e humano e a importante base de recursos e atractivos naturais e culturais de alta qualidade que detém, com destaque para a hospitalidade do povo Moçambicano.

Tudo isto nos coloca diante de uma série de questionamentos que merecem destaque:
Como fazer para ampliar o período de permanência e o gasto do turista que visita Moçambique? Como fazer para atrair mais turistas a cada ano e alcançar economias de escala? Como fazer para que o cidadão moçambicano contribua para o crescimento da oferta turística e beneficie cada vez mais da economia do turismo?

Para solucionar estas questões, torna-se importante admitir que o turismo é uma actividade económica de natureza transversal (isto por que influi e é influenciada por um conjunto de sectores). Como tal, torna-se importante entender o desenvolvimento da actividade turística no marco de um contexto específico de territorialidade. Quer dizer de limites, de conhecimentos e de activos próprios de um determinado espaço físico-territorial.

Neste sentido, apenas com o intuito de nos localizarmos e sem querer ser exaustivo em relação a este conceito, podemos entender um destino turístico como:
“Território especializado em atender as necessidades do turista e que faz isto de maneira economicamente rentável, socialmente responsável e ambientalmente eco-eficiente.”

A ideia de destino turístico, portanto, traz consigo uma série de questões-chave para nortear a política económica e a implementação de programas de apoio ao desenvolvimento do sector, como se pode verificar a seguir. Primeiro, a necessidade da delimitação territorial. É preciso definir formalmente o território que será objecto de intervenção e/ou de incentivo. Isto porque se parte do princípio universal que vivemos condicionados pela escassez de recursos.

As demandas de qualificação (legal, física e humana) do território são sempre, ou quase sempre, maiores que a capacidade de intervenção. Neste sentido, a delimitação do território permite uma melhor alocação de recursos e maior sinergia entre os investimentos a serem realizados, e com isto, a esperança de melhores resultados.
Dois exemplos práticos desta referência, são o Programa de Diversificação da Oferta Turística de Inhambane (Cidade e Praias Adjacentes) liderado pela Direcção Provincial de Turismo e pela SNV e o Programa Âncora de Investimentos em Turismo liderado pelo Ministério do Turismo e o International Finance Corporation (IFC). Em ambas as iniciativas, embora a partir de estratégias de desenvolvimento diferentes, pode-se verificar a delimitação territorial como elemento básico e estruturante do desenvolvimento turístico.

No mesmo sentido, deve-se trabalhar no conjunto de províncias/cidades/bairros turísticos e com potencial turístico. É preciso mapear e priorizar aqueles territórios (macro ou micro) que já apresentam níveis avançados de desenvolvimento, podendo destacar e a modo de ilustração territórios como Parque Nacional da Gorongosa e Serra; Reserva dos Elefantes e Ponta do Ouro e necessariamente alguns micro-territórios de Maputo.

Um segundo ponto de destaque, é que o destino deve ser maior que a somatória das suas partes, neste caso as suas partes são os atractivos naturais e históricos, as infraestruturas públicas, a população local, os empreendimentos locais e os activos culturais. O conceito de destino turístico deve encorajar, no âmbito local, a produção e comercialização associada, a cooperação pública privada e acções integradas de marketing, entre outras. Sempre buscando sinergias entre os diversos actores locais que integram, influem e são influenciados pelo território.

Neste âmbito, reflectir no desenvolvimento e marketing de destinos turísticos, sugere uma lógica diferente daquela tradicional que tende para o “individualismo”.

Neste caso, é preciso compreender que o sucesso de um empreendimento turístico (singular) de qualquer natureza depende directamente da qualidade integral do destino. Entendendo-se isto a partir de elementos como: segurança, sinalização, qualidade do meio ambiente, etc, etc.. Assim mesmo, a qualidade do destino tem capacidade de atrair turistas e gerar maiores oportunidades de negócios para cada um dos empreendimentos, beneficiando o conjunto do sector e a população local.

Finalmente, o conceito de destino turístico, traz à tona a necessidade de uma gestão participativa, princípio este que se sustenta numa visão compartilhada de futuro para o destino, aonde todos, população local, empresários e governo tenham voz e capacidade de colaborar nas decisões que podem influir no rumo do desenvolvimento sustentável desta actividade.

Neste sentido, e para finalizar, cabe destacar aqui a experiência e contribuições da SNV para o desenvolvimento do Turismo Pro-Pobre aqui em Moçambique, experiência que alinhada com a perspectiva e o desafio do desenvolvimento de destinos turísticos, vem contribuir com a formação de um senso de unidade, de uma visão de futuro entre população, empreendedores e Governo. Quer dizer, com a formação de uma base de diálogo para a formalização de um modelo nacional de desenvolvimento.

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