quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Pode o turismo alavancar a economia da cidade de Maputo?

Nos últimos anos, a cidade de Maputo tem mostrado uma forte capacidade para se posicionar no sector do Turismo de maneira competitiva. Isto manifesta-se de maneira evidente pelo facto de Maputo ser responsável por 40% do volume total das receitas derivadas do turismo em Moçambique.

O dinamismo do sector constata-se pelo aumento progressivo da oferta de bares, restaurantes e diversos tipos de acomodação. Por outro lado, verifica-se um aumento sensível na qualidade e quantidade de eventos culturais de entretenimento, entre demais actividades associadas ao sector turístico. Tudo isto num período de tempo relativamente curto, o que manifesta a criatividade, vitalidade e vocação da cidade para o turismo.

Quem visita Maputo facilmente se apercebe de que a cidade se está a tornar numa capital multicultural. Um conjunto de factores corrobora isto, podendo destacar-se a forte presença de agências de cooperação, de ONG´s estrangeiras, além da presença de importantes empresas multinacionais que possuem os seus escritórios regionais sediados na capital moçambicana.

A multiculturalidade de Maputo resulta e se sustenta, sobretudo, pela sua base de identificações constituída por uma diversidade étnica e sóciocultural que confere à cidade a vibração de uma urbe jovem, em expansão e com uma forte capacidade para atrair e desenvolver talentos. Evidentemente que tudo tal cenário agrega valor à imagem da cidade e à experiência turística, tornando-a mais rica e multidimensional.

Tendo como pano de fundo a organização do Campeonato Mundial de Futebol a decorrer na África do Sul em 2010, e de acordo com o ciclo de crescimento económico vivenciado, a cidade está a receber investimentos importantes para a revitalização das acomodações. São estes os casos do Hotel Polana, Hotel Cardoso, Indy Village, entre outros actualmente em estado de reforma para além de outros novos investimentos em curso.

De acordo com o Ministério do Turismo, entre 2008 a 2009, 40 milhões de dólares norte-americanos estão a ser investidos no sector do turismo na Cidade de Maputo. Os projectos apresentados pelos investidores indicam que este capital irá gerar directamente 3.240 empregos novos e outros 9.720 postos de trabalho de forma indirecta, a nível local.

Ao mesmo tempo, outras actividades importantes ligadas ao sector do turismo estão a ser objecto de apoio adicional do Governo e instituições locais e internacionais de desenvolvimento, com particular destaque para as áreas de cultura e formação vocacional.

Na área cultural, é possível identificar iniciativas marcadas através de eventos teatrais, musicais, espectáculos de dança e manifestações culturais tradicionais resultantes de esforços levados a cabo por promotores culturais privados e do sector público. Aqui se pode destacar nas artes e no artesanato a CEDARTE, a ANARTE, o Cantinho dos Artesãos e o Programa de Indústrias Criativas da UNESCO.

Na área de formação vocacional, a SNV tem realizado um importante trabalho de assessoria técnica com os órgãos competentes, contribuindo para uma unificação dos critérios de formação. Assim mesmo, está sendo desenvolvida uma iniciativa em parceria com o governo brasileiro, e com o SENAC em particular, no sentido de fortalecer a capacidade institucional nacional para a capacitação dos profissionais do sector.

O ciclo de desenvolvimento do turismo na Cidade de Maputo deve ser estimulado como forma de minimizar e superar os impactos da crise financeira internacional e tirar vantagem da actual situação.

Nesse sentido, surgem vários desafios como meio de capitalizar a presente estabilidade social e política; a forma particular de ser e de estar dos citadinos de Maputo e o ambiente vibrante de que a cidade goza. De igual modo, é importante tirar partido do ambiente de negócios inovadores e criativos que se desenvolvem na cidade, principalmente pela forte entrada de capital financeiro e humano (nacional e estrangeiro), além da localização excepcional da cidade do ponto de vista logístico.

Neste âmbito, levantam-se diversas questões no sentido de identificar as intervenções prioritárias nas axtividades-chave ligadas ao sector do turismo, particularmente aquelas que podem resultar num forte impacto em termos de benefício para as pessoas de baixa renda e em particular para os empreendedores nacionais, sem descurar os empresários e as empresas estrangeiras que trazem consigo fortes e interessantes sinergias com os mercados regionais e internacionais de longa distância, além de experiências e práticas que muito podem contribuir para fazer evoluir o cenário geral do turismo no espaço de Maputo.

Este cenário traz à luz importantes questões que devem ser objecto de reflexão dos governos local e central, e que podem ajudar a perceber formas apropriadas e eficazes de intervenção a partir da perspectiva de dinâmicas propostas pela aplicação da actual política económica.

Primeiro, temos de pensar se devemos abordar a economia do turismo a partir da perspectiva da oferta, ou seja, através da visão de quem oferece produtos e serviços, ou por via de uma perspectiva territorial ou de destino turístico.

Enquanto diversos economistas continuam a defender a idéia de uma abordagem sob o ponto de vista da oferta nas intervenções da política económica desde que se consolide a economia do turismo, admite-se cada vez mais que o lado da oferta é, embora eficaz para certas análises, uma perspectiva restrita que não considera a natureza transversal do turismo e os fenómenos sociais e não económicos que ocorrem num território considerado como um destino turístico, uma questão central quando se planifica e se desenham políticas de turismo eficazes.

Neste sentido, uma abordagem territorial ao desenvolvimento do turismo, não só deve incluir a cadeia produtiva tradicional de turismo (hotéis, transportes, agências de viagens, bares e restaurantes), mas ainda integrar outros elementos que influem na qualidade do ambiente público, como a segurança e a saúde públicas, o clima de hospitalidade e a receptividade da população, além de outros factores sócioculturais e ambientais.

Esta perspectiva de desenvolvimento do turismo leva-nos a uma outra etapa na análise sobre como uma política económica de turismo pode contribuir para o desenvolvimento dinâmico e criativo da cidade de Maputo. Este termo “criativo” que se aponta ao longo deste artigo não vem por acaso. Precisamos ser verdadeiramente ousados e criativos para a cidade se afirmar como uma das capitais criativas de África. Este é um dos maiores e mais importantes capitais de um país, o capital da criatividade. Saber explorá-lo é uma arte que a maior parte das cidades mais competitivas e atractivas do mundo estão a compreender e a aproveitar cada vez mais.
Desde meados da década de 70 do século XX, foram desenvolvidos muitos modelos de intervenção, e os mesmos foram aplicados em diversos países em desenvolvimento para efeitos de planificação turística e políticas económicas.

Actualmente, é quase consensual a idéia de que o desenvolvimento do turismo deve ser planeado através de uma abordagem sistémica ou holística, onde por conceito ocorre uma natural interdependência entre os aspectos económicos e actividades não económicas como as infraestruturas, os serviços públicos e qualidade ambiental, estabilidade e inclusão social, sendo este o princípio fundamental do conceito de Turismo Sustentável.

Tendo isto em conta, é possível perceber a importância de um marco normativo e orientador eficaz para o desenvolvimento do turismo na cidade de Maputo. Os decisores políticos da Cidade de Maputo poderiam, neste caso, promover um mapeamento dos pequenos pólos de turismo e cultura que se vêem desenvolvendo na cidade, podendo inclusive tematizá-los e organizá-los num ranking de prioridades de investimento.

Seria importante o seguimento deste mapeamento dos micro-pólos de turismo em Maputo com incentivos para investimentos comprometidos eticamente e economicamente com os 7 Mecanismos do Turismo Pro-pobre como expressos pela Organização Mundial do Turismo.

Estas idéias levam-nos à conclusão de que a actividade turística na cidade de Maputo, se entendida numa perspectiva mais ampla e abrangente, pode ser um elemento fundamental para induzir a geração de trabalho e rendimentos no âmbito local e nacional.

Contudo, este patamar só pode ser alcançado se a Cidade (governo, iniciativa privada e população) trabalharem juntos para capitalizar o seus activos culturais, humanos, ambientais e territoriais estimulando novos negócios e trazendo e retendo na cidade talentos, idéias criativas e capitais dos mais diversos.

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