quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Maputo na contramão da crise no setor de turismo.

Enquanto a economia mundial de turismo contraiu no primeiro semestre de 2009, África expandiu 3%. As principais capitais do continente africano, entre elas Maputo, vêm apresentando um desempenho superior em termos de taxa de ocupação do sector hoteleiro, de número de eventos e actividades comerciais ligadas ao sector turístico.

Como é possível que, enquanto o turismo mundial encolhe, em África estejamos a caminhar a um ritmo mais acelerado? Como é possível que, enquanto no resto do mundo os investimentos directos em infra-estruturas de turismo estejam a ser reduzidos, nesta região do Sudeste Africano os investimentos continuem a aumentar, e de maneira significativa? Como justificar que enquanto os eventos a nível mundial tem diminuído significativamente (-15%), quando comparados com dados de 2007, aqui no país o número de eventos esteja a aumentar e novos centros de convenções e eventos se encontrem em construção ou em fase de reforma? Que segmento de turismo é este que se apresenta menos sensível à economia mundial e que vem beneficiando sobremaneira Moçambique e a cidade de Maputo, em particular?

O fenómeno que vem sustentando a economia turística de Maputo, assim como de outras capitais da região, está intimamente relacionado com o desenvolvimento de pequenos, médios e grandes eventos.

Na categoria de pequenos e médios encontram-se todos aqueles que acontecem em parte subsidiados, ou estimulados, pela cooperação internacional. Diariamente, vemos faixas promocionais (banners), algumas muito bem elaboradas outras mais simples, mas o que é facto é que as vemos todas as semanas estendidas pelas ruas de maior circulação da cidade, anunciando importantes eventos de interesse nacional.

Estes eventos congregam pessoas de diversas nacionalidades, que, por sua vez, viajam muitas vezes para Maputo apenas para este fim. De igual modo, líderes locais, gestores públicos, técnicos e demais membros do Governo, também são congregados por estes eventos e atraídos à cidade de Maputo.

O que resulta directamente desta mobilização contínua e estruturada de pessoas é um segmento hoteleiro com taxas de ocupação razoáveis, acima dos 60%, um segmento de bares e restaurantes em franca expansão, com novos negócios aflorando, outros reformando e uma, cada vez mais, evidente diversidade de alternativas em termos de gastronomia e lazer.

De acordo com resultados preliminares do estudo da Cadeia de Valor do Turismo, realizado pela SNV (Netherlands Development Organisation) em Parceria com a Direcção de Turismo da Cidade, o turismo projeta-se hoje como uma das mais importantes actividades indutoras de desenvolvimento social e económico da cidade.

A mobilização estruturada de pessoas que resulta do turismo em geral e dos eventos em particular, activa pelo menos 52 atividades económicas que injectam na economia de Maputo algo próximo dos 75 milhões de dólares americanos por ano.

Assim mesmo, a produção artesanal e a venda de souvenires (camisetas, capulanas, etc.) é amplamente estimulada, gerando trabalho e rendimento no sector formal e informal, beneficiando jovens, mulheres e chefes de família, tal como vem sendo identificado pela própria SNV e pela UNESCO, OIT e CEDARTE.

Somente no “ponto turístico” do Mercado do Peixe, foram identificados mais de 250 vendedores de diversos produtos, todos estes comerciantes informais dependentes directamente do turismo para a sua sobrevivência e das suas famílias.

Com isto em mente, podemos admitir que o turismo de eventos é um pilar fundamental da economia da cidade e que é preciso estimulá-lo de modo a que Maputo se consolide neste segmento, atraindo não apenas eventos institucionais mas também eventos corporativos e desportivos, na linha da FACIM e dos Jogos Pan-Africanos.

Por outro lado, é preciso admitir que o turismo de eventos, tal como o conhecemos hoje, não vai durar para sempre. Portanto, será importante discutir como o segmento de eventos institucionais pode alavancar outras ofertas, justificar investimentos de infra-estruturas em zonas da cidade prioritárias e melhorar a adesão dos micro e pequenos comerciantes (formais e informais) nesta cadeia.

Maputo é, hoje, uma cidade cada vez mais limpa, segura, com um forte património histórico e cultural - elementos que precisam de ser trabalhados como parte de uma oferta complementar à oferta dos eventos.

O turista (doméstico ou internacional) quando vem a um evento, tem de ser seduzido a querer ficar mais um dia, a fazer um passeio pela zona histórica, a conhecer um evento cultural e os principais museus e, se possível, inclusivamente, vir a Maputo com a sua mulher e os seus filhos, possibilitando uma experiência de cultura e lazer familiar.

O que é preciso fazer, de momento, é, em primeiro lugar, admitir que Maputo vive de Eventos, o que é bom. Esta é a realidade de São Paulo, por exemplo. Somente os eventos internacionais desta cidade brasileira injectaram, em 2007, 8,5 milhões de dólares na economia local. Por este motivo, São Paulo já compreende o segmento de eventos como uma prioridade e para tal conta com o São Paulo Convention & Visitors Bureau. (www.visitesaopaulo.com)

Em segundo lugar, é preciso que o sector privado procure maneiras de estimular a diversificação da oferta. O sector hoteleiro e as agências de viagens devem-se aproximar e explorar melhor a venda de serviços complementares ao hóspede.

É importante que agências e hoteleiros explorem, mais e melhor, os atractivos históricos da cidade, a orla da “Costa do Sol”, os parques e jardins do Polana, os museus e eventos culturais na “Cidade Antiga–Baixa”, entre outras potencialidades.

Nesse sentido, resulta importante que o Governo da Cidade aproveite este momento excepcional para inovar, estimular o empreendedorismo, e com parcerias público-privadas, continuar com a requalificação do espaço público, embelezando praças e os pontos turísticos. Vejamos o exemplo dos Jardins dos Professores, Jardins dos Namorados na Polana e dos planos para requalificação do Mercado do Peixe e da Praça da Mulher Moçambicana.

A meta deve ser levar a que aqueles que visitam a nossa cidade a gastar aqui todo o seu “per diem/diárias”, e que ainda voltem a casa dizendo à sua família: «Da próxima vez que eu viajar a Maputo, vocês vêm comigo e vamos aproveitar o que de melhor existe e se faz lá».

(*) Assessor Sénior de Desenvolvimento Econômico (Turismo) da SNV

Autor do Livro “Gestão de Destinos Turísticos”, distribuído pela Escolar Editores.

Um comentário:

  1. Até quando acredita que Maputo vai sobreviver só de eventos?

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